sábado, 3 de dezembro de 2011

O certo


Às vezes, fico pensando como seria o mundo, se cada um tivesse que definir por si próprio o que é certo ou errado, bom ou ruim. Se não tivéssemos molduras, de não fossemos adestrados para nos adequar, o que seríamos? Como seria esta espécie de animais, os humanos, "in natura"?
Realmente, não sei dizer. Não faço a menor idéia de como seria. Só de uma coisa tenho convicção: agiríamos do modo correto. Não pode haver nada de mais adequado neste mundo, do que ser quem a gente é. Sem convenções, sem regras, sem culpas, sem jogos.



 Viveríamos conforme a única lei na qual ainda sinto justiça: a de causa e efeito. Porque também acredito que somos o que fazemos – é, não acho que neste mundo real houvesse lugar para Freud e suas causas inconscientes de fatos psíquicos, nele só haveria lugar para Sartre – e podemos ter paz, desde que consigamos lidar com nossas ações e/ou com as conseqüências delas advindas.
Portanto, atentem, conto de fadas não teriam lugar ali, logo nada de finais felizes para sempre. Como lhe é inerente, a liberdade teria seu ônus: a responsabilidade. Sem nada do que nos limita, também viveríamos sem a máscara que nos protege.



terça-feira, 29 de novembro de 2011

Lar

E  uma sensação de vazio tomava conta de mim...
... eu não me encontrava em lugar algum...
...perdia o rumo, o chão, a paz...
Até que, magicamente, fui salva!





Estou de volta ao meu ninho.



sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Revendo conceitos

Interessante como conhecer o lado de lá faz diferença.
Há algum tempo atrás, ao me posicionar a respeito da polêmica gerada pela afirmação de um humorista brasileiro, envolvendo uma cantora grávida, também brasileira, não tive dúvidas: ele merecia o processo que estava sofrendo, pois afirmar, jocosamente, que “comeria” mãe e filho ultrapassava qualquer limite de humor e resultava em grosseria e desrespeito.
A argumentação a favor do humorista, de que nós, brasileiros, nos conformamos sem nos manifestar contra a corrupção política corrente, e que por isto era insensata a comoção em torno desta questão, de nada me convenceu, visto que, a meu ver, o debate de idéias é sempre construtivo, e se o mesmo, infelizmente, não acontece no campo político, que se dê no âmbito moral, então. Nem que seja para exercitarmos nossa capacidade argumentativa, antes que a percamos de vez.
Voltando agora à polêmica em questão. Hoje, durante um agradável almoço, conversava com um grupo de amigos e o assunto voltou à pauta. Só que desta vez, tínhamos – eu e minhas amigas, todas mineiras – a companhia de um novo amigo, gaucho. Debati com ele sobre o episódio, coloquei minha opinião, ouvimos a dele. De tudo o que ele disse apenas o fato de ser o humorista também gaúcho, era novidade para mim. E tenho que admitir que isto contou, porque é sabido que eles têm lá um “jeitão” mais enfático de expressar, e menos carregado da moral religiosa que acompanha os costumes nesta parte de cá desta nossa terra de dimensões continentais. Mas, o que realmente me fez entender que para o humorista, aquele episódio pode realmente não ter tido nenhuma outra conotação além da piada, foi vê-lo – nosso amigo -  reproduzir a cena, e, pela primeira vez, achar graça do que foi dito. É, o jeito dele, o tom dele, o sotaque dele... tudo isso somado, me fez rir sem sentir.
Em vista disto, me obrigo a admitir que pode ter sido apenas uma piada. Todavia, continuo acreditando que o humorista não foi feliz ao lidar com as conseqüências da confusão que em função dela se formou. Ao se dar conta de que outras pessoas se sentiram ofendidas – pois é o que acontece quando se lida com personalidades públicas, todos se sentem de alguma forma atingidos – ele poderia ter tido a gentileza de explicar, tendo assim evitado todo o mal estar que se fez, e, certamente, também o processo judicial.
De tudo, o que fica? Bah! Um salve à oportunidade de entender as diferenças!



domingo, 20 de novembro de 2011

Jóias raras

Saudade da primeira casa onde me lembro de ter morado... onde ganhei minha primeira vitrolinha – aquela da Minnie, que vinha junto com uma coleção de discos coloridos, que contavam, com vozes e músicas envolventes, as histórias de todas as princesas - ... onde ganhei uma camisola colorida, que seria igualzinha a da minha irmã, não fosse uma vermelha, a outra laranja... onde tive o único sonho do qual não me esqueço nunca, e nem poderia, já que nele me foi apresentado meu anjo da guarda. 

Saudade de fazer figa para o meu pai me deixar dormir na casa das minhas primas e de quando este era o melhor programa do mundo.

Saudade dos almoços de domingo na casa da minha avó, ainda que eu detestasse aquele macarrão grosso – eu amo macarrão, mas aquele parecia mais um canudo - que ela insistia em fazer.

Saudade das visitas às fazendas das minhas tias, onde mesmo com as implicâncias de um ou outro primo pentelho, eu e meus irmãos vivemos emocionantes aventuras, como tomar banho de banheira, à luz de lampião, com dezenas de pererecas nos observando... ou escalar enormes mangueiras e fazer delas a nossa casa.

Saudade de  ficar ansiosa pela volta às aulas, só para usar todos aqueles materiais escolares novinhos.

Saudade de quando minha avó vinha nos visitar e trazia presentes maravilhosos, pelos quais nossos olhos infantis brilhavam de alegria: canetinhas, réguas coloridas, borrachas de duas cores, bonecas de pano.

Saudades de quando eu acreditava que meu pai tinha todas as respostas, que ele podia resolver qualquer problema e me proteger de todos os males.

Saudade de comer arroz doce na escola. E de poder repetir, já que, como quase ninguém gostava, sempre sobrava.

Saudade de fazer coreografias com minhas irmãs e primas nas festas de aniversário de família.

Saudade das intermináveis tardes de férias “devorando” romances água com açúcar, os quais alimentavam meus sonhos juvenis. 





Saudade da mocidade espírita da qual fiz parte e onde aprendi importantes lições de vida.

Saudade do cheiro da comida da minha mãe, que ocupava todos os espaços da casa assim que abríamos a porta, na chegada da escola.

Saudade do meu vizinho preferido, que me abraçava como ninguém mais sabia fazer e com quem vivi a mais inocente amizade... colorida.

Saudade de quando aprendia inglês traduzindo músicas do “New Kids on the Block”.

Saudade da primeira viagem que fiz sozinha com a minha irmã. Da segunda e da terceira também.

Saudade da sensação de estar plenamente conectada a alguém só com um beijo. Saudade do olhar e do cheiro dele.

Saudade das traquinagens adolescentes nas quais eu acompanhava minha louca e destemida melhor amiga. Que continua louca, destemida e, indubitavelmente, amiga.

Saudade de ir para a praia com toda a minha família. E dos amores de verão que em algumas destas ocasiões vivi.

Saudade das incontáveis festas na faculdade, de dançar até o fim da noite, de paquerar, flertar e fazer tudo isso novamente, com a mesma pessoa, e me acreditar apaixonada.

Saudade de quando as luzes da minha casa se apagavam e nós dormíamos todos – pai, mãe e irmãos - sob o mesmo teto.

Saudade da alegria de ver as carinhas dos meus sobrinhos pela primeira vez.

Saudade de todas as crianças que vi crescer.

Saudade do meu pai cantando e tocando violão.

Saudade da professora da faculdade, com a qual aprendi que o conhecimento nos modifica, nos transforma e que pode ser orientado, mas só se efetiva com esforço próprio.

Saudade de ficar horas a fio ouvindo músicas tipo “dor de cotovelo”, no sofá da sala, com a minha irmã.

Saudade da minha primeira casa, depois de casada. E de todos os momentos inesquecíveis que tive nela.

Saudade do meu ex-marido e amigo, com quem vivi e a quem dediquei, sem arrependimentos, dez anos da minha história.

Saudade da família da qual já fiz parte, de tudo que fizemos juntos - filmes com pipoca, praia, jogos, vinho e confidências, almoços, jantares, lanches, festas, passeios, conversas jogadas fora- e que agora trago no coração.

Saudade do meu pai.

Saudade do amor no qual acreditei, mas nunca vivi. A não ser nos meus sonhos mais caros.

Saudade de cada um dos meus amigos que está longe, mas aquela saudade que deixa apertadinho o coração... sabe?

Saudades de uma vida inteira.

E orgulho. Um tremendo orgulho de colecionar tão valiosas jóias para o único tesouro que realmente levamos conosco: as boas lembranças.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Mãe sofre!

Aí, num destes domingos da vida, eu, que dormira na casa da minha irmã, acordo com as vozes, risadas e gritos dela e do meu sobrinho, resultantes das brincadeiras e conversas as quais já se tornaram um ritual sempre que a mamãe coruja, e profissional atarefadíssima, tem a oportunidade de ficar em casa e curtir seu "bebê", que conta agora com 7 anos completos.
Já desperta, mas ainda tomada pela preguiça de me levantar e ir ao encontro deles, fico quieta, me esforçando para matar a curiosidade de saber qual é o tema do empolgado diálogo:
- Mas meu filho, você e os meninos (dois coleguinhas da escola) não percebem que aquela guriazinha fica se jogando para os três?
- Ah mãe, a gente sabe, mas você não sabe o que aconteceu sexta, foi muito legal!
- Então me conte!
- A "Fulana" me pediu que eu pegasse para ela a régua que estava no armário. Eu corri e fiz o que ela pediu, bem depressa! Daí, mãe, ela olhou, sorriu pra mim e beijou meu rosto dizendo "Você merece um beijinho!"
- Olha!!! Tá vendo, filho?! Ela está usando você!
- Aaaaa, mãe, então eu GOSTO de ser usado!!!!!!!
Sem alternativas ou argumentos, explodimos as duas - ela de lá, eu de cá, em sonoras gargalhadas, às quais ele, sem se fazer de rogado, acompanhou.
Porém... lá do meu quarto, para além do som das risadas, eu conseguia ouvir o coração da minha irmã... num ligeiro descompasso de quem teme o futuro.








                             (Qualquer semelhança com fatos reais, não é mera coincidência!)

Amigos sim, perfeitos não.

Amizade... Diz-se por aí que amigo é aquele no qual se pode confiar, porque se a amizade é verdadeira, ele nunca vai te trair e sempre vai estar lá para você. E se isto não acontecer, inevitavelmente, virá a decepção e com ela a quebra de confiança. Assim acontecendo, nada será como antes, pois, uma vez quebrada, a frágil confiança não poderá consertada a contento.
No entanto, como pode algo tão importante, tão fundamental para qualquer tipo de relacionamento, ser tão delicado? Ouso dizer que não é.
A confiança pode ser arranhada, machucada e, obviamente, isto dói. O quanto durará esta dor e o tamanho dela, varia de acordo com as expectativas de cada um. Também varia de pessoa para pessoa, e em função dos cuidados recebidos, a cicatriz que desta ferida resultará.
Metáforas à parte, a verdade é que somos todos humanos e estamos sujeitos a erros. Sendo os nossos amigos muito próximos de nós, qualquer das partes pode ser vítima deste fato. No dia-a-dia, estamos sob a influência do ciúme, do cansaço, da carência, dos problemas familiares, dos problemas do coração e dos nossos defeitos, é claro. Tudo isso, não raro, nos ofusca os sentidos e acaba levando a situações que suscitam mágoa e ressentimento naqueles que estão ao nosso lado, mesmo quando os amamos, ou até em razão deste amor.
Quando isto se dá, alguns elementos determinam se era, ou não, amizade o sentimento que existia antes que se desse o problema. Porque, se for, embora ciente da culpa, quem errou vai pedir e insistir no perdão, não vai desistir nunca de você. E quem foi ofendido, depois de ter tido o devido tempo – horas, dias, meses, ou até anos - para digerir os acontecimentos, acabará perdoando. Em tempo, por mais que se sinta desiludido, o coração de quem se ofendeu será acalentado, ainda que secretamente, por esta insistência no perdão, pois se sentir importante, ter a certeza da relevância que se tem na vida o outro, faz toda diferença.
Outro fator que merece destaque é ter a oportunidade de vivenciar o outro lado, é também necessitar do perdão de alguém, é ver em nós mesmos, a possibilidade de errar e, mesmo sem uma justificativa razoável, querer ser absolvido. É sentir na própria pele, que se pode magoar o outro, sem ter deixado de amá-lo e de se importar com ele.



Por fim, mas não menos importante, é ter a capacidade de aceitar o outro como ele é, é ser capaz de lidar, suportar e contornar o que não nos agrada, por achar que o que existe de positivo na relação com ele, supera e compensa alguns sacrifícios.
Contudo, se, a princípio, contesto quanto à fragilidade da natureza da confiança, admito ser ela o ponto nevrálgico das relações humanas, e, por conseguinte, da amizade. Não é nada fácil superar abalos de confiança, e é sempre um processo doloroso. Mas, quando isto se dá, o resultado será uma reconfortante surpresa: o sentimento que te une ao outro é ainda mais forte que um laço – o qual pode se desfazer a qualquer momento -, pois se assemelha aos vigorosos elos de uma corrente, sendo capaz de resistir muito melhor às intempéries da vida. E esta certeza, conseguida à duras penas, acalenta a alma.
Perante estes motivos, prefiro a definição a qual afirma que um amigo pode até te sacanear, enganar, te fazer sofrer, chorar, te decepcionar... Mas jamais admitirá que outra pessoa faça quaisquer destas coisas contigo. E que se num momento de necessidade, ele tiver faltado, independente do motivo, assim que se der conta, ter perdido a chance de te ajudar, doerá nele tanto quanto esta ausência doeu em você.
Então, deixo aqui o meu recado: todos que se sentiram culpados por serem traídos, sacaneados e em função disto odiaram, xingaram, gritaram, mas  mesmo assim conseguiram superar e voltaram, ainda que contra seus próprios princípios, a sentir saudade, vontade de conversar, de rir, de compartilhar com quem o coração insiste em chamar de amigo, perdoe-se. Você não é louco, nem é fraco, muito pelo contrário. Sabe-se que perdoar é para os fortes de espírito. E para os que quando amam estão convictos da reciprocidade deste amor – que aqui também pode ser chamado de amizade -, apesar dos pesares.

(Texto dedicado a Vanessa, com quem muito aprendi e ainda aprendo sobre amizade.)

A libélula



Em um pequeno lago, na água enlameada sob os lírios, vivia um besouro em uma comunidade de besouros água. Eles viviam uma vida simples e confortável no lago, com poucos distúrbios e interrupções.
De vez em quando, a tristeza surgia para a comunidade, quando um de seus companheiros besouros resolvia escalar o tronco de uma almofada de lírio, para não mais ser visto. Eles sabiam que quando isso acontecia, seu amigo estava morto, tinha ido para sempre.
Certo dia, um destes besouros d'agua sentiu um impulso irresistível de subir a haste. Entretanto, foi determinado que ele não ia embora para sempre. Ele iria voltar e dizer a seus amigos o que tinha encontrado no topo.
Quando ele chegou ao topo e subiu para fora da água, para a superfície da almofada de lírio, ele estava tão cansado, e sentiu o sol tão quente, que ele decidiu que deveria tirar uma soneca. Enquanto ele dormia, seu corpo mudou e, quando acordou, ele tinha se transformado em uma bela e azulada libélula com asas largas e um corpo esguio projetado para voar. Então, ele voou! E, como ele subiu, viu a beleza de um novo mundo e uma forma de vida muito superior ao que ele nunca tinha conhecido ou soubesse existir.
Em seguida, lembrou-se de seus amigos besouros e como eles estavam pensando, agora ele estava morto. Ele queria voltar para dizer-lhes, e explicar-lhes que agora estava mais vivo do que jamais houvera estado antes. Sua vida tinha sido cumprida e não terminara. Mas, o novo corpo não iria cair na água. Ele não podia voltar para dizer a seus amigos a boa notícia. Foi quando ele compreendeu: seu tempo viria, e aí eles também saberiam o que agora ele já sabia.

(autor desconhecido)