domingo, 20 de novembro de 2011

Jóias raras

Saudade da primeira casa onde me lembro de ter morado... onde ganhei minha primeira vitrolinha – aquela da Minnie, que vinha junto com uma coleção de discos coloridos, que contavam, com vozes e músicas envolventes, as histórias de todas as princesas - ... onde ganhei uma camisola colorida, que seria igualzinha a da minha irmã, não fosse uma vermelha, a outra laranja... onde tive o único sonho do qual não me esqueço nunca, e nem poderia, já que nele me foi apresentado meu anjo da guarda. 

Saudade de fazer figa para o meu pai me deixar dormir na casa das minhas primas e de quando este era o melhor programa do mundo.

Saudade dos almoços de domingo na casa da minha avó, ainda que eu detestasse aquele macarrão grosso – eu amo macarrão, mas aquele parecia mais um canudo - que ela insistia em fazer.

Saudade das visitas às fazendas das minhas tias, onde mesmo com as implicâncias de um ou outro primo pentelho, eu e meus irmãos vivemos emocionantes aventuras, como tomar banho de banheira, à luz de lampião, com dezenas de pererecas nos observando... ou escalar enormes mangueiras e fazer delas a nossa casa.

Saudade de  ficar ansiosa pela volta às aulas, só para usar todos aqueles materiais escolares novinhos.

Saudade de quando minha avó vinha nos visitar e trazia presentes maravilhosos, pelos quais nossos olhos infantis brilhavam de alegria: canetinhas, réguas coloridas, borrachas de duas cores, bonecas de pano.

Saudades de quando eu acreditava que meu pai tinha todas as respostas, que ele podia resolver qualquer problema e me proteger de todos os males.

Saudade de comer arroz doce na escola. E de poder repetir, já que, como quase ninguém gostava, sempre sobrava.

Saudade de fazer coreografias com minhas irmãs e primas nas festas de aniversário de família.

Saudade das intermináveis tardes de férias “devorando” romances água com açúcar, os quais alimentavam meus sonhos juvenis. 





Saudade da mocidade espírita da qual fiz parte e onde aprendi importantes lições de vida.

Saudade do cheiro da comida da minha mãe, que ocupava todos os espaços da casa assim que abríamos a porta, na chegada da escola.

Saudade do meu vizinho preferido, que me abraçava como ninguém mais sabia fazer e com quem vivi a mais inocente amizade... colorida.

Saudade de quando aprendia inglês traduzindo músicas do “New Kids on the Block”.

Saudade da primeira viagem que fiz sozinha com a minha irmã. Da segunda e da terceira também.

Saudade da sensação de estar plenamente conectada a alguém só com um beijo. Saudade do olhar e do cheiro dele.

Saudade das traquinagens adolescentes nas quais eu acompanhava minha louca e destemida melhor amiga. Que continua louca, destemida e, indubitavelmente, amiga.

Saudade de ir para a praia com toda a minha família. E dos amores de verão que em algumas destas ocasiões vivi.

Saudade das incontáveis festas na faculdade, de dançar até o fim da noite, de paquerar, flertar e fazer tudo isso novamente, com a mesma pessoa, e me acreditar apaixonada.

Saudade de quando as luzes da minha casa se apagavam e nós dormíamos todos – pai, mãe e irmãos - sob o mesmo teto.

Saudade da alegria de ver as carinhas dos meus sobrinhos pela primeira vez.

Saudade de todas as crianças que vi crescer.

Saudade do meu pai cantando e tocando violão.

Saudade da professora da faculdade, com a qual aprendi que o conhecimento nos modifica, nos transforma e que pode ser orientado, mas só se efetiva com esforço próprio.

Saudade de ficar horas a fio ouvindo músicas tipo “dor de cotovelo”, no sofá da sala, com a minha irmã.

Saudade da minha primeira casa, depois de casada. E de todos os momentos inesquecíveis que tive nela.

Saudade do meu ex-marido e amigo, com quem vivi e a quem dediquei, sem arrependimentos, dez anos da minha história.

Saudade da família da qual já fiz parte, de tudo que fizemos juntos - filmes com pipoca, praia, jogos, vinho e confidências, almoços, jantares, lanches, festas, passeios, conversas jogadas fora- e que agora trago no coração.

Saudade do meu pai.

Saudade do amor no qual acreditei, mas nunca vivi. A não ser nos meus sonhos mais caros.

Saudade de cada um dos meus amigos que está longe, mas aquela saudade que deixa apertadinho o coração... sabe?

Saudades de uma vida inteira.

E orgulho. Um tremendo orgulho de colecionar tão valiosas jóias para o único tesouro que realmente levamos conosco: as boas lembranças.

2 comentários:

  1. Lindo texto, amiga!
    Sempre soube que você sabia se expressar divinamente. E quem não sente saudade não é mesmo? Você contando essas coisas, lembrei de várias coisas da minha vida também, uma delas os materiais da escola, que eu ficava super ansiosa pra usar, e ficava babando nos livros kkkkkk...
    Foi bom ler isso, e de suas memórias, trazer minhas lembranças.

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  2. Obrigdada, Mi! Fico feliz que você tenha gostado e embarcado comigo nesta viagem. Beijinhos!!

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